quinta-feira, 7 de junho de 2007
Entrevista com Tom Wolfe + Novo novo jornalismo
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=328ASP009
No link, entrevista que Tom Wolfe deu à Veja quando do lançamento do livro Eu Sou Charlotte Simmons, em 2005, e um texto em que Paulo Roberto Pires fala um pouco sobre novo novo jornalismo:
O ‘novo novo jornalismo’ é, segundo o organizador, a combinação de duas tendências da tradição jornalística americana: a dos veneráveis ancestrais como Stephen Crane, escritores preocupados com a realidade imediata que, movidos pela preocupação social, mergulhavam no universo dos despossuídos em geral; e, de forma mais próxima, a da geração que surgiu nos anos 1960 renovando a linguagem e autodenominando-se ‘novo jornalismo’.
segunda-feira, 4 de junho de 2007
domingo, 3 de junho de 2007
Reportagem Contextualizada
profe da Unesp, Pedro Celso Campos
Gêneros jornalísticos
professor português - aula sobre gêneros jornalísticos
extras sobre edição de texto - FNPI
Taller de edición de textos periodísticosCon Álex Grijelmo
domingo, 27 de maio de 2007
Adiós, maestro
despedida do diretor-executivo da escola de jornalismo FNPI - Colômbia
'escola de Gabo'
texto de Jaime Abello Banfi, Director Ejecutivo
FNPI-Fundación Nuevo PerioPublicar postagemdismo Iberoamericano
terça-feira, 22 de maio de 2007
Granta virá ao Brasil ; 0 )
Enquanto aguardamos a edição brasileira, podemos bisbilhotar as homes das versões inglesa e espanhola, lincões abaixo:
Da Granta em Espanhol:
Granta en Español difunde una peculiar manera, implantada ya en inglés por su homónima, de entender la narrativa, la crónica, la autobiografía y las memorias escritas en todos los países hispanohablantes, entre ellos Estados Unidos. Narrativa y periodismo con "la nariz pegada a la ventana", en la que importa tanto qué se cuenta como cómo se cuenta. Asimismo, se propone difundir en lengua inglesa a narradores y periodistas que escriben en castellano. Cada número de Granta en Español, publicado tres veces al año desde Barcelona y patrocinado por la editorial Alfaguara, indaga con pasión en un asunto que no siempre coincide, de modo patente, con la actualidad reflejada en los medios: su carácter narrativo y la categoría de los textos que lo integran avalan su interés permanente.
http://www.granta.com/
http://www.granta.es/
segunda-feira, 21 de maio de 2007
Em busca dos dêiticos....
http://www.cce.ufsc.br/~nupill/ensino/a_referenciacao.htm
Nos últimos parágrafos, trata dos dêiticos.
Publicado em 2002
domingo, 20 de maio de 2007
A Análise Pragmática da Narrativa Jornalística
http://reposcom.portcom.intercom.org.br/dspace/bitstream/1904/16836/1/R2419-1.pdf
domingo, 6 de maio de 2007
Entrevistas n'O Pasquim y otras cositas más
http://www.geocities.com/BourbonStreet/Delta/5840/font_lupic.htm
Ziraldo e outros entrevistam Fernando Gabeira - 2003
http://www.gabeira.com.br/noticias/noticia.asp?id=593
Patota d'O Pasquim entrevista Rogério Sganzerla e Maria Inês - 1970
http://www.contracampo.com.br/27/sganpasquim.htm
Pasquim entrevista o jogador Leonardo - 2002
http://www.leosempre.hpg.ig.com.br/leo41.html
Entrevista de Zilda Arns para a equipe do Pasquim21, composta por Ziraldo, Zélio, Luís Pimentel, Zezé Sack e Caco Xavier, com convidados Marcelo Auler, Lena Frias e Fritz Utzeri, além de Fabio Pereira, estudante da PUC/Rio. Frederico Rozario fotografou.
http://www.rebidia.org.br/novida/entrevista_pasquim.htm
Tautz entrevista Fritjop Capra para o Pasquim - 2003
http://www.agirazul.com.br/fsm4/_fsm/00000098.htm
apenas o começo da entrevista com Brizola - Pasquim na segunda fase
http://www.pdt.org.br/personalidades/bzentpaquim.asp
abertura de entrevista de Millôr Fernandes para a Playboy
http://playboy.abril.com.br/revista/edicoes/382/aberto/entrevistas/conteudo_221855.shtml
entrevista do Jaguar para a VIP:
http://vip.abril.com.br/nova_vip/talkshow/jaguar.shtml
resenha do livro 'O Pasquim - Antologia 1969-1971, de Jaguar e Sérgio Augusto
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=375AZL002
Extras - para ler em casa:
entrevista com Sérgio Augusto, editor de Pasquim, Correio da Manhã, Opinião (entre muitos outros) e colaborador da Bravo!
http://www.digestivocultural.com/entrevistas/imprimir.asp?codigo=10
excelente artigo sobre o Henfil e O Pasquim de Dênis de Moraes
http://www.uff.br/mestcii/denis3.htm
entrevista de Ziraldo para o Sindicato dos Jornalistas de SC - 2003
http://www.sjsc.org.br/pj_online/pj_29/entrevista.htm
Para quem quiser saber mais, há uma catalogação d'O Pasquim, Realidade e O Cruzeiro sendo elaborada pelo pessoal do site:
http://www.memoriaviva.com.br/blogmv.htm
entrevista de Bruno (sem sobrenome...) com Jaguar e Sócrates (ao estilo Pasquim)
http://patriafc.blogspot.com/2006/08/entrevista_115654665182927551.html
Eu compro Playboy para ler as entrevistas!!!
http://www.erasmocarlos.com.br/entrevista_playboy.asp
Sérgio Xavier (ed. Placar) entrevista Robinho - 2005
(apenas texto, sem íntegra da entrevista)
http://playboy.abril.com.br/revista/edicoes/363/aberto/entrevistas/conteudo_90120.shtml
Ricardo Noblat entrevista Gilberto Freyre - 1980
http://playboy.abril.com.br/revista/edicoes/363/aberto/entrevistas/conteudo_90120.shtml
Andréa Barros entrevista Marcelo D2 - data??
http://www.urbanawebsite.com.br/d2/d2_entrevista.htm
Ruy Castro entrevista Gilberto Braga - 1980
http://www.gilbertobragaonline.com/entrevistas/playboy.html
Thales de Menezes entrevista Ivete Sangalo - 2002
http://www.ivetesangalo.com/id/20020801121417_Entrevista_Playboy_14
http://www.ivetesangalo.com/0/A727F305426EAB07C1256DE100732777
Paulo Markun entrevista Regina Duarte - 1990
http://www.paulomarkun.com.br/portugues/escreve/entrevistas_view.asp?id=412
Fernando Morais entrevista Baltasar Garzón - data??
http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/tpi/pinochet/garzon.htm
Humberto Werneck entrevista Chico Buarque de Hollanda - 1979
http://chicobuarque.uol.com.br/texto/entrevistas/entre_playboy_79.htm
Adriana Negreiros entrevista Tutinha Amaral - 2006 (creio)
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2006/02/345982.shtml
David Sheff entrevista a Yoko Ono e John Lennon -
http://www.los4.com/quemas/john.html
Eric Norden entrevista Marshall McLuhan - 1969
(comentário em espanhol, entrevista em inglês)
http://www.fergut.com/wordpress/?p=52 - comentário Fernando Gutierrez
http://www.digitallantern.net/mcluhan/mcluhanplayboy.htm
David Sheff entrevista os fundadores do Google, Sergey Brin e Larry Page (em inglês) - 2004
http://www.kottke.org/plus/misc/google-playboy.html
Extras para ler em casa....
Entrevista com Ruy Castro (não é para a Playboy...)
http://www.digestivocultural.com/entrevistas/entrevista.asp?codigo=4
Rodrigo Turrer entrevista Ricardo Setti (para o site da Faculdade Cásper Libero) - 2006
Setti foi editor-chefe de Playboy
http://www.facasper.com.br/jo/notas.php?id_nota=57
quarta-feira, 25 de abril de 2007
O Jornalismo Gonzo e a Subjetividade Desejável
Murilo Furlan Mellio
RESUMO
Este trabalho analisa a subjetividade no fazer jornalístico, focado, neste caso, no Jornalismo Gonzo. Para isso, trata do surgimento do Jornalismo Gonzo como um novo gênero jornalístico-literário na década de 1970 e de sua abordagem pouco convencional e sem pretensões objetivas. Assim, são destacadas as características principais dessa modalidade de jornalismo, que levam a conclusões sobre o Gonzo e sobre a própria forma de fazer jornalismo.
Palavras-chave: jornalismo gonzo – subjetividade – hunter thompson – objetividade.
A maioria dos autores reconhece que a objetividade plena é impossível no jornalismo, mas admite isso como uma limitação, um sinal da impotência humana diante da própria subjetividade, ao invés de perceber essa impossibilidade como um sinal da potência subjetiva do homem diante da objetividade.
O Jornalismo Gonzo, criado em 1970 nos Estados Unidos por Hunter S. Thompson, é uma valorização dessa característica subjetiva do ser humano na profissão de jornalista. Confundido frequentemente com o Novo Jornalismo – e às vezes considerado apenas uma vertente deste, o Gonzo na verdade é uma técnica a parte de apuração e apresentação dos fatos. “Ainda que tenham surgido na mesma época, Jornalismo Gonzo e Novo Jornalismo são gêneros jornalístico-literários distintos entre si”, sustenta André P. Czarnobai (2003), em sua monografia Gonzo – o Filho Bastardo do New Journalism.
Na década de 60, Thompson, o fundador do novo estilo, viveu durante dezoito meses entre os membros da gangue de motociclistas Hell's Angels, que resultou em uma reportagem em 1965 e depois virou livro. Durante esse período, participou integralmente de todas atividades da gangue, inclusive de brigas e uso de drogas. A primeira reportagem considerada gonzo, no entanto, só aconteceu em junho de 1970 com o título The Kentucky Derby is Decadent and Depraved, publicada em uma revista de esportes chamada Scanlan's Monthly. O que era pra ser uma matéria sobre um evento esportivo acabou sendo uma forte crítica aos hábitos da população local. Nos anos seguintes, Thompson seguiu praticando o Jornalismo Gonzo em reportagens para revistas como a Playboy e Rolling Stone, San Francisco Chronicle, Esquire, Vanity Fair, e na publicação de livros, com destaque para Fear and Loathing in Las Vegas (lançado no Brasil em 1984 pela editora Anima como Las Vegas na Cabeça), sua obra mais conhecida. Por ser o criador e o maior ícone do estilo, Thompson, que morreu em 2006, foi e ainda é fonte de inspiração para jornalistas gonzo.
No jornalismo tradicional, segundo Afonso de Albuquerque (Campbell; Tuchman. Apud Albuquerque: 2000: 77), o “ideal da objetividade desempenhou um papel importante na afirmação dos jornalistas como intérpretes especializados da realidade, dotados de uma autoridade própria, não subordinadas a outros agentes sociais e políticos”, isto também através de recursos narrativos como “o uso de uma perspectiva em terceira pessoa, a estrutura de pirâmide invertida das notícias, a separação das hard news da opinião e das notícias de interesse humano, o texto pouco adjetivado, etc”. O Jornalismo Gonzo, na sua maneira iconoclasta de ser, tratou de rejeitar essa máscara chamada objetividade. O Gonzo abriu as portas para um relato assumidamente subjetivo, sem pretensões de fazer uma abordagem imparcial e de esconder convicções, medos, ideologias, paixões, opiniões e interesses do repórter que certamente influenciam qualquer material jornalístico. Segundo a Wikipédia¹, “Gonzo é um estilo de narrativa em jornalismo, cinematografia ou qualquer outra produção de mídia em que o narrador abandona qualquer pretensão de objetividade e se mistura profundamente com a ação.”
O Jornalismo Gonzo não possui manifestos ou regras e não existe uma definição única do que se trata. Todavia, são evidentes algumas características particulares, que vão desde a coleta de dados à redação da reportagem. A primeira delas é o jornalista vivenciar a experiência, tornando o narrador um dos personagens da história. Indo muito além de testemunhar um fato ou ação, ou entrevistar alguma testemunha, o jornalista gonzo participa da ação, para entrar mais a fundo no assunto e proporcionar ao leitor uma maior proximidade com a experiência. A coleta de dados pode durar meses ou anos, e exige uma grande aproximação entre o investigador e o que é investigado, como conceitua Czarnobai (2003):
_________________
¹Wikipédia é uma “enciclopédia livre” virtual disponível no sítio www.wikipedia.org.br
Na falta de termo melhor, denominaremos a técnica de osmose, referenciando o fenômeno biológico no qual dois fluídos misturam-se gradualmente através de uma membrana porosa. Fazendo uma comparação, o primeiro fluído é o Gonzo Jornalista e o segundo, o objeto de sua investigação. A membrana porosa é o ato da reportagem em si, pois é através dela que os dois mundos interferem um no outro. Dessa forma é correto dizer que o repórter gonzo altera o objeto de sua reportagem da mesma forma que o objeto altera o próprio repórter. É quase como se o jornalista precisasse personificar o objeto de sua reportagem.
Czarnobai (2003) também cita, como exemplo, as experiências de John Sack e George Plimpton. Este queria escrever sobre o Detroit Lions, uma equipe de futebol americano e, para isso, julgou ser insuficiente apenas acompanhar os treinamentos ou entrevistar os jogadores. Então, conviveu com os jogadores, exercitou-se com eles e chegou mesmo a disputar uma partida da pré-temporada da National Football League, de 1966. John Sack, convenceu o exército norte-americano a deixá-lo incorporar-se a uma companhia de infantaria e participar junto aos soldados de todos os treinamentos militares para depois ser enviado ao Vietnam, na primeira linha de combate:
Não se pode negar que a presença participativa de Sack entre os soldados da Companhia Minterferiu na rotina de todos aqueles homens, assim como Plimpton fez com os jogadores do Detroit Lions e Thompson com os Angels. Da mesma forma, Sack precisou, de uma forma ou de outra, portar-se como um soldado, assim como Plimpton foi, de fato, um jogador de futebol americano durante o período em que conviveu com eles.
Outra característica fundamental do Jornalismo Gonzo é sua narrativa em primeira pessoa, que nega o mito da imparcialidade jornalística sem, no entanto, comprometer o objetivo de informar alguma coisa a alguém. Sobre a objetividade jornalística, Jay Rosen (2003: 79) comenta que:
É uma técnica de persuasão que podemos colocar ao lado de muitas outras. Todas estas técnicas têm suas vantagens e desvantagens, mas a técnica de persuasão preferida do jornalista é dizer: “Estou apenas a entregar-vos os factos. Não tenho qualquer envolvimento com os factos. Os factos não me preocupam particularmente. Não é um problema meu. Digo apenas as coisas tal como são.”
A narrativa gonzo, entretanto, quebra essa ilusão de distanciamento utilizando, ao invés da calculada distância da terceira pessoa, um narrador em primeira pessoa que deixa claro não só que ali existe um mediador entre o fato a ser relatado e o relato, como não esconde que esse mediador é carregado de subjetividade. Isso ocorre por ser um estilo de reportagem mais focado na experiência vivida pelo repórter do que no evento em si, e o relato se dá através do ponto de vista de quem o viveu, resultando em um relato mais humano e verossímil. Assim, o Jornalismo Gonzo abre mão da entrevista como instrumento de pesquisa para focar sua atenção em um personagem-narrador que é o próprio repórter, o protagonista da ação. Chris Simunek (1998: 176), um editor da revista High Times, é um dos principais representantes do Jornalismo Gonzo atualmente e, portanto, suas reportagens sempre possuem caráter pessoal que só o foco narrativo na primeira pessoa é capaz de permitir. No seu livro Paraíso na Fumaça, ele relata uma experiência traumática que teve durante uma celebração Rastafari de que participou em Kingston, na Jamaica.
Disse a ele que estávamos à beira do linchamento. Ele pegou pesado com os caras que nos perseguiam, dizendo que o jeito como estavam nos tratando não agradava a Jah nem um pouquinho.
- Não se preocupe com a molecadinha. O O’binghi é lindo, meu.
Ficamos juntos do Bigga até que o táxi chegou. Eu não conseguia falar. Fiquei ali de pé, revendo as palavras de paz que tinha ouvido dos meus amigos rasta durante toda aquela semana. Eu me sentia vítima da mesma merda racial que sempre pensei que eles abominassem. Ao pegarmos a estrada, o motorista notou meu olhar vazio e perguntou o que tinha acontecido. Eu estava tão atormentado que nem deu pra responder.
Outra característica marcante do Jornalismo Gonzo é o uso de ironia e sarcasmo como senso de humor, que resulta em uma abordagem cômica e ácida, tanto das situações quanto dos próprios repórteres, satirizando a imagem de sérios e respeitáveis dos jornalistas, frequentemente vistos como porta-vozes da verdade incontestável. Isso se mostra claro em outro trecho de Paraíso na Fumaça, de Simunek (1998: 50), durante um encontro de motociclistas na cidade de Sturgis, do qual participou:
- Gene, você é um jornalista. Eu acho que deve explorar todos os aspectos do evento. A minha sugestão é começarmos por aqui, depois, é claro, dum beque pra despertar a inspiração do artista que existe em você, não é?
- Por que não? – eu respondi – Olhar pruma mulher nua é uma atividade que transcende qualquer classificação sociopolítica, e eu certamente preciso da dose adequada de objetividade pra assegurar que a minha história contenha a verdade absoluta e imparcial!
O uso de drogas pelo do jornalista gonzo, inclusive durante o seu trabalho, ficou celebrizado pela fama – correta – de Hunter Thompson consumir drogas em grande variedade e quantidade durante a confecção de suas reportagens. No entanto, segundo Czarnobai (2003):
Um dos maiores erros que se comete na tentativa de conceituar Gonzo Journalism é reduzi-lo à simplicidade de ser apenas uma forma de jornalismo feita sob o efeito de drogas. Gonzo é também isto, mas não apenas isto. Apesar de ser uma das características mais determinantes para classificar um texto como Gonzo, o uso de drogas não é a única. De nada adianta o uso de drogas se o texto não for redigido em primeira pessoa ou adotar um caráter mais austero, por exemplo.
Para ser gonzo, portanto, o jornalista não precisa consumir drogas, ainda que seja uma prática bastante recorrente entre os autores modernos. Esse hábito de consumo de entorpecentes, no entanto, assim como a abordagem cômica e às vezes irônica do rendem duras críticas ao gênero jornalístico, acusado de falta de seriedade.
A peculiaridade mais controversa do estilo Gonzo, no entanto, é uma afronta total a um dos princípios básicos do jornalismo, a barreira que separa o jornalismo da ficção: o compromisso com a verdade. Segundo o Manual da Redação da Folha de S. Paulo (2001: 24),
Reportagens têm por objetivo transmitir ao leitor, de maneira ágil, informações novas, objetivas (que possam ser constatadas por terceiros) e precisa sobre os fatos, personagens, idéias e produtos relevantes. Para tanto, elas se valem de ganchos oriundos da realidade, acrescidos de uma hipótese de trabalho e de investigação jornalística.
Czarnobai (Othitis Apud Czarnobai: 2003), citando Christine Othitis, destaca que “Thompson não diferencia o fato da ficção na maioria de sua obra. Ele deixa para o leitor decidir qual é qual”, o que põe em dúvida a veracidade de muitas histórias descritas nos seus relatos. O uso de ficção em textos gonzo, no entanto, não impede de serem jornalísticos. A seguir, Czarnobai (2003) comenta um trecho, presente no começo de Las Vegas na Cabeça, em que a presença de um jovem caroneiro o próprio Thompson às vezes reconhece como real, outras como pura invenção. Contudo, mesmo não existindo na realidade, o personagem não compromete a veracidade do relato, e pode até mesmo contribuir para o desenrolar da narrativa:
Se Thompson tivesse optado por fazer apenas uma digressão interna falando sobre a geração pós-hippie (como ele de fato faz, durante todo o capítulo 8 do livro) se poderia dizer que, jornalisticamente, o texto estaria mais correto. Por outro lado, a ausência de toda a cena - desde as impressões de Thompson sobre o carona até os diálogos - deixaria não só a narrativa menos interessante como tornaria muito mais frio o tratamento que Thompson dispensaria a estes temas em referências futuras.
Sendo assim podemos concluir que a inserção da ficção no Gonzo Journalism não só contribui para a desenvoltura da narrativa como ainda fornece um nível de informação muito mais profundo do que uma reportagem tradicional, o que vem ao encontro da definição de Faulkner segundo a qual a melhor ficção é muito infinitamente mais verdadeira que qualquer tipo de jornalismo. Também podemos perceber que a ficção é um elemento inserido de uma forma proposital e calculada, e não aleatória como poderia parecer num primeiro momento.
Este artigo argumenta pela valorização de um jornalismo menos neutro portanto mais engajado; por uma aproximação mais subjetiva da realidade, consequentemente mais humana. Jay Rosen (2003: 84) analisa que:
Em poucos anos será crítico para as pessoas no jornalismo declararem um fim à sua neutralidade em certas questões. (...) À medida que estes comecem a compreender que não podem dar-se ao luxo de ser neutros nestas questões, começarão talvez a lutar pela sua própria filosofia que consiga substituir a objectividade por algo mais forte e, se posso expor as coisas assim, mais inspirador.
A abordagem Gonzo do jornalismo é frequentemente desvalorizada e desacreditada por seus traços subjetivos e pouco convencionais. Porém, pode materializar um jornalismo mais saboroso de ser apreciado, além de feito com menos medo de não ser verdadeiro – e assim tornar-se mais verdadeiro.
Referências Bibliográficas
ALBUQUERQUE, Afonso de. A narrativa jornalística para além dos fait-divers.
UFJF, v.3, n.2. Juiz de Fora: Lumina, 2000.
CZARBONAI, André Felipe Pontes. Gonzo – o Filho Bastardo do Novo Jornalismo. Porto Alegre, 2003.
Disponível em http://www.qualquer.org/gonzo/monogonzo/monogonzo01.html
GENRO FILHO, Adelmo. O segredo da pirâmide - para uma teoria marxista do jornalismo. Porto Alegre, 1987.
Disponível em: http://www.adelmo.com.br.
GOMES, Felipe Sáles; LOURENÇO BATISTA, Renata; VEIGA DA COSTA, Klenio. Jornalismo Narrativo: Eficiência e viabilidade na mídia impressa. Rio de Janeiro, 2004.
Disponível em http://www.bocc.ubi.pt/pag/costa-klenio-jornalismo-narrativo.pdf
LÍNGUA PORTUGUESA. São Paulo. Ano 2, número 14. Editora Segmento: 2006.
MANUAL DA REDAÇÃO: FOLHA DE S. PAULO. São Paulo: Publifolha, 2001.
ROSEN, Jay. Para Além da Objectividade. In: Traquina, N. Jornalismo Cívico. Lisboa. Livros Horizonte, 2003.
quinta-feira, 5 de abril de 2007
Redacao III
Centro de Comunicação e Expressão
Departamento de Jornalismo
JOR 5301 – Redação III – turma de terça-feira
Professora: Barbara Arisi
Ementa
O trabalho de repórter: pauta, fontes, coletas de informações, estilos de entrevistas. O "trabalho de rua" em diversos setores.
Objetivos da disciplina: Aprofundar a compreensão do processo de produção do texto jornalístico: pauta, apuração, entrevistas, reflexão, organização e edição das informações coletadas e escrita.
Estudar diferentes tipos de entrevista e reportagem.
Compreender a relação entre texto, discurso jornalístico e veículo responsável pela publicação.
Exercitar leitura crítica e redação de reportagem.
Conteúdo programático:
PARTE I: Antes de sair para a rua
Aula 01 – 20/03 – Apresentação.
O fato jornalístico – Video ´The Shipping News´- trechos e debate.Olhar de pauteiro e contato necessário com as ruas.
Aula 02 – 27/03: A pautaO que é? Características. Critério de seleção/Pauta sob-medida. Subsídios para a elaboração da pauta. Relação com as fontes. Pauta como ponto de partida e não de chegada.
Aula 03 – 03/04: Apuração: Fontes, Pesquisa, busca de informaçõesNatureza e interesses das fontes. Relação com as fontes. Agenda, contatos. Como buscar e obter informações.
Criatividade para descobrir novas (e boas) fontes.Trabalho em equipe ou individual.Preparo: pesquisa em arquivo, bibliográfica, entrevistas anteriores.Limites e possibilidades da apuração.
Aula 04 – 10/04: EntrevistaClassificação e técnicas de entrevista. O repórter perante o entrevistado. A humanização das fontes de informação. Personagens.
Aula 05 – 17/04: História de vida e biografia. Perfil
Livros de entrevista.
Aula 06 – 24/04: Preparativo para Avaliação:
Pesquisa coletiva e, posterior, trabalho individual na Hemeroteca. Seleção de duas reportagens (uma da revista Realidade e outra a escolher), leitura crítica e comparativa das mesmas.
01/05 - Feriado – Dia do Trabalho
Aula 07 – 08/05: Leitura e debate
Entrevistas no Pasquim e na Playboy – paradigmas.
PARTE II - Vamos para a rua. Lá fora, a vida acontece.
Aula 08 – 15/05: Entrega da primeira avaliação.
Saída com os alunos: cavar, garimpar (excelentes) pautas.
Aula 09 – 22/05: ReportagemDefinições e possibilidades de reportagem.
Narrativas. Revista Realidade – paradigma.
Aula 10 – 29/05: O texto de reportagemOrganização e reflexão sobre as informações coletadas. Estrutura e características do texto jornalístico: singularidade, clareza, recorte do objeto, etc. Estilos e possibilidades para reportagens em setores e publicações diferentes.
Aula 11 – 05/06: Livro-reportagem. Kapuscinski, mestre. Garcia Márquez, repórter.Ruy Castro. Fernando Morais. Zuenir Ventura.
PARTE III: Diversos Setores – Quem publica e para quem se escreve.
Hora de publicar.
Aula 12 – 12/06: Entrega da segunda avaliação: Reportagem pequena a partir da pauta que selecionamos na saída. Relato do bastidor.Leitura e Discussão de reportagens contemporâneas. Novas publicações: Piauí, Primeira Leitura, Cadernos do Diplô.Jornais regionais e de bairro.
Aula 13 – 19/06: Cobertura em diversos setores
Quem é o patrão? Para quem se escreve?
Diferenças de veículos e abordagens - Nanicos, pequenos, médio e mega veículos.
Alternativo, sindical/partidário/ONGs, empresarial, comunitário, comercial, agência.
Aula 14 – 26/06: Discussão de pautas individuais. Alunos apresentam sua proposta de pauta individual para a turma. Reunião de pauta: trocar idéias e dar sugestões para os colegas.
Aula 15 – 25/06: Exercícios em sala de aula.
Leitura, análise e crítica das primeiras matérias produzidas pelos alunos. Apresentação de críticas e sugestões em grupo. Discussão.
Aula 16 - 03/07: Conversa aberta entre professora e alunos sobre as dificuldades de pauta, apuração, entrevistas, organização de dados e idéias e escrita das matérias que estão sendo produzidas. Todos os alunos devem falar de sua experiência e trocar idéias e sugestões com os colegas.
Aula 17 – 10/07: Entrega da terceira avaliação.
Leitura e debate. Reportagens de publicações nacionais, regionais e de bairro. Para esta aula, os alunos devem trazer duas reportagens que considerem a) mal ou b) bem feitas. Os alunos irão trocar os recortes entre si. Após a leitura, cada um fará uma rápida apresentação da matéria. Vamos discutir diferenças e semelhanças elas.
Aula 18 – 17/07: Encerramento.Avaliação das reportagens (individual).
Aula 19 – 23/07: Extra – turma 01 e turma 02 – 23/07 (segunda-feira) às 8h30min:
Video: ´Capote´. Discussão.
Metodologia
As aulas terão dois momentos: expositivo, com apresentação de autores e textos sobre os temas de cada aula e, prático, com análise, discussão e aplicação - dentro e fora da sala de aula - dos conteúdos tratados.
Os exercícios incluem a leitura crítica e discussão em sala sobre pauta, reportagens e a prática de produzir notícia/reportagem. Iremos exercitar todo o processo: da pauta ao texto pronto para ser publicado (ou para o editor).
O material jornalístico para leitura crítica será fornecido pela professora, mas sugestões (clipping) dos alunos serão muito bem-vindas.
Os alunos realizarão exercícios práticos de reportagem incluindo: elaboração de pautas, saída à rua para trabalho de reportagem, redação de matéria. Leitura e resenha de reportagens.
Avaliação
Além da participação nas aulas, o estudante será avaliado pela elaboração de resenha comparativa de reportagens, por elaboração de pautas e reportagens de sua autoria.
Primeira avaliação: Leitura e resenha comparativa.Pesquisa coletiva e, posterior, trabalho individual na Hemeroteca. Comparar duas reportagens (uma da revista Realidade, previamente selecionada pela professora e sorteada entre os alunos; e outra, a escolher durante pesquisa na hemeroteca, que aborde o mesmo tema que a de Realidade), ler de forma crítica. Escrever um texto sucinto, máximo de 3 mil caracteres, sobre as duas reportagens selecionadas. Neste texto, devem ser analisados os seguintes elementos: estrutura da reportagem (descritiva, dissertativa ou narrativa), uso de diálogo, fontes (quais?, suficientes?, relevantes?), pesquisa prévia para a reportagem, relação que o texto apresenta entre o assunto abordado e o tema em outros patamares (global/nacional, regional, local).
Segunda avaliação: Escrever uma pequena reportagem com base na pauta que
´garimpamos´ ou ´cavamos´ em nossa saída coletiva. Máximo 5 mil caracteres.Escrever um relato do bastidor da reportagem: como levantou a pauta, apurou a matéria, selecionou e entrevistou as fontes, organizou e priorizou as informações, dificuldades ou facilidades para escrever. Máximo mil caracteres.
Terceira avaliação: Reportagem pequena individual.
Da pauta ao texto final. A avaliação levará em conta: criatividade na escolha da pauta, enfoque dado, seleção de fontes, riqueza na apuração e qualidade do texto. Máximo 6 mil caracteres.
Cada avaliação gera uma nota, a média da soma delas resultará na nota final.
Espero de vocês participação em aula, leitura crítica das matérias com as quais iremos trabalhar ao longo do semestre e preparação prévia (leitura da bibliografia indicada) para as discussões que realizaremos após as aulas expositivas.
Bibliografia Básica
ALTMAN, Fábio. 2004. A arte da entrevista. SP: Boitempo.
KOTSCHO, Ricardo. 1985. A prática da reportagem. SP, Ática.
LAGE, Nilson. 1998. Estrutura da Notícia. SP: Ática.
LIMA, Edvaldo Pereira. 1993. O que é livro-reportagem. SP: Ed. Brasiliense.
MEDINA, Cremilda. 1986. Entrevista: o diálogo possível. SP, Ática.
NOBLAT, Ricardo. 2004. A Arte de fazer um jornal diário. SP: Contexto.
SODRÉ, Muniz e FERRARI, Maria Helena. Técnicas de reportagem. Notas sobre a narrativa jornalística, SP, Summus.
Bibliografia Complementar - Livros-reportagem e de entrevista:
APULEYO MENDOZA, Plínio. 1993. Cheiro de Goiaba: Gabriel García Márquez. RJ: Record.
CASTRO, Ruy. 1995. Estrela Solitária: um brasileiro chamado Garrincha.
9ª. reimpressão. SP: Cia. das Letras.
_____, Ruy. 2001. A Onda que se ergueu no Mar. SP: Cia. das Letras.
GARCIA MARQUEZ, Gabriel. 1996. Notícia de um seqüestro. RJ: Record.
KAPUCINSKI, Ryszard. 1994. Imperium. SP: Cia. das Letras.
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_____, Ryszard. 2005. O Imperador. SP: Cia. das Letras.
_____, Ryszard. 2007. Minhas Viagens com Heródoto. SP: Cia. das Letras.
MORAIS, Fernando. 1994. Olga. SP: Cia das Letras.
_____, Fernando. 2001. Chato: o rei do Brasil. 3ª. edição. SP: Cia. das Letras.
SETTI, Ricardo. 1986. Conversas com Vargas Llosa. SP: Brasiliense.
VENTURA, Zuenir. 1994. Cidade Partida. SP: Cia. das Letras.
WOLFE, Tom. 2005. Radical Chique e o Novo Jornalismo.: o espírito de uma época em que tudo se transformou, inclusive o jeito de se fazer reportagem. SP: Cia das Letras.
Bibliografia Complementar - Outros
NOGUEIRA, Nemércio (coord.). Jornalismo é... Ed. Xenon, ABA (Associação Brasileira de Anunciantes) e ABI (Associação Brasileira de Imprensa).
TRAMONTINA, Carlos. 1996. Entrevista: A arte e as histórias dos maiores entrevistadores da televisão brasileira. 3ª edição. SP: Globo.